sábado, 10 de setembro de 2011

Timbó - 5.

Índios Kaingang chamavam CA-TO-NÓI
Tem vários espécies com o mesmo nome.
É muito utilizada para pescar os peixes. Batem-se feixes de galhos de timbó para soltar suco na água e os peixes anestesiados pulam da água. Melhor tempo de pescar: janeiro, fevereiro quando as águas são mais baixas.
É utilizada muito pelos índios e cinza.


TIMBÓ - MASCAGNIA (PUBIFLORA, RIGIDA, CORIACEA, ELEGANS)

Mascagnia sp.

Planta pertencente a família Malpighiaceae com 4 espécies de importância:

Mascagnia publifora, Mascagnia rigida, Mascagnia coriacea, Mascagnia elegans.

Nomes CientíficosNomes ComunsHabitat
Mascagnia publifora (Juss) - Grisebach - variedade pilosaMascagnia publifora (Juss) - Grisebach - variedade lisacorona, timbó, cipó-prataEm terrras férteis, além de culturas, capoeiras e matas.
Mascagnia rigida (Juss) - Grisebachtingui, salsa-rosa, péla-bucho, quebra-bucho, mata-peixe, timbóEm lugares sombreados (frescos), em solos férteis, nos chapadões
Mascagnia Coriaceaesuma-roxa, suma, quebra-bucho

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Mascagnia elegansrabo-de-tatu

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Importância: são plantas tóxicas e invasoras de pastagens.

Ocorrência: Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo e em algumas regiões do Nordeste.

Aspectos botânicos:

Mascagnia publifora - existem duas variedades, a lisa e a pilosa.

A pilosa é um arbusto-trepadeira (cipó), com ramos terminais novos, cilíndricos, folhas membranáceas, com nervuras secundárias, glabras (sem pêlos) na face superior, branca pubescentes na inferior. As flores são amarelas e os frutos verde-claros, com asas trapezoidais laterais.

A lisa se assemelha muito a pilosa, se diferenciando pelas folhas de dorso não tomentosas. As flores apresentam o dorso do limbo piloso.

Mascagnia rigida:

Trepadeira sem pêlos, com folhas elípticas, opostas, sem pêlos, inflorescência em cachos, axilar e terminal com flores pequenas e amarelas.

As espécies Mascagnia publifora e Mascagnia rigida, se diferem botanicamente pelas folhas, pétalas e crista do fruto.

Propagação: principalmente através de rizomas.

Princípio ativo: existem dúvidas quanto aos princípios, mas provavelmente os efeitos tóxicos se devam a ação de glicosídeos e saponinas.

Partes tóxicas: é variável a toxidez das folhas, de acordo com a época do ano, devido ao estádio de desenvolvimento das plantas. No geral, todas as partes da planta são tóxicas (folhas e frutos). Na época de brotação, a concentração do princípio ativo na planta é maior.

A Mascagnia publifora apresenta variação na toxidez na seguinte ordem decrescente: frutos, brotos e folhas.

Animais sensíveis à intoxicação:

- em condições naturais: bovinos.

- em condições experimentais: bovinos, cobaios.

Condições para a ocorrência das intoxicações:

- por ser um cipó, é ingerida junto à forragem durante todo o ano (por estar enroscada à forragem);

- intoxicações por Mascagnia publifora são mais comuns no período da rebrota, quando são bem aceitas pelos animais.

- a incidência de intoxicações por Mascagnia rigida é menor no período da seca, pelo fato de perderem as folhas, o que diminui a ingestão;

- o exercício físico dos animais, principalmente quando estavam ao sol, podem provocar ou intensificar os sintomas, ou mesmo precipitar a morte.

Início dos sintomas após a ingestão da planta e evolução:

- Mascagnia publifora: os sintomas surgem após 12 a 25 horas, com curso variável, podendo a morte ocorrer em poucos minutos até 50 horas.

- Mascagnia rigida: os sintomas surgem após 16 a 48 horas, com curso variável de poucos minutos (morte súbita).

Sintomas:

São caracterizados por alterações cardíacas e neuromusculares de evolução superaguda, com morte súbita. Os sintomas são antecipados ou intensificados pelo exercício físico, principalmente se o animal estiver exposto ao sol.

Entre os principais estão:

- Relutância em caminhar e levantar (andar rígido)

- Tremores musculares;

- Quedas

- Movimento de pedalagem

- Convulsões e morte.

- A Mascagnia publifora, além dos sintomas descritos acima, pode causar também, aumento da freqüência respiratória, pálpebras fortemente cerradas, revirar de olhos, mucosas esbranquiçadas, berros lastimosos, perturbações do sistema nervoso central, convulsões e morte.

Diagnóstico: pelo conjunto de dados - presença da planta na pastagem, sinais e sintomas clínicos.

Diagnóstico diferencial:

- carbúnculo hemático (por exemplo, febre)

- intoxicação pelo cafezinho (Palicourea marcgravvi) - ( por exemplo, presença da planta e morte súbita, sem segunda queda do animal)

Controle: com herbicidas apropriados; não é recomendável arrancá-la com enxadão, pois suas raízes são profundas além de se propagar através de rizomas.

Profilaxia:

- movimentar com muito cuidado os bovinos em pastagens onde há ocorrência desta plantas;

- cercar as áreas muito infestadas (ex: bosques e matas).



O aborígene já conhecia e entendia de plantas venenosas, as quais também eram usadas para cura. Nas festas o homem americano utilizava-se de vegetais entorpecentes que davam momentos deleitáveis e o transformavam por vezes em clarividente ou médium. Os naturais do Amazonas conheciam e ensinavam ao imigrante as aplicações de muitíssimas plantas tóxicas, na terapêutica, porquê sabiam que todas as plantas venenosas são medicinais e que o efeito depende unicamente da dose em que são ministradas. O índio também faz uso de várias plantas tóxicas de ação narcotizante como os Tinguís e os Timbós , que servem para capturar os peixes por asfixia. Os caboclos brasileiros usam as espécies do grupo dos timbós, sapindáceas e leguminosas para envenenar a água dos rios e assim matar peixes. Esse tipo de pesca, apesar de predatório, permite, com pouco esforço, resultados imediatos dos mais compensadores.

Entre 1560 e 1580, o padre José de Anchieta detalhou melhor as plantas comestíveis e medicinais do Brasil em suas cartas ao Superior Geral da Companhia de Jesus. Anchieta relatou minuciosamente o processo da tinguijagem e o referido por ele está bem de acordo com os processos empregados no Amazonas e no Pará, para o envenenamento e entorpecimento dos peixes com as diferentes Sejanias das Sapindaceas, que são aliás, os verdadeiros Timbós. Também Frei Vicente do Salvador conta de pescarias e explica o modo pela qual os índios matavam os peixes ou os embebedavam nas águas com a erva timbó" .

Spruce, nas suas longas e demoradas viagens ao Amazonas e Peru, depois de Humbolt e outros, relatou muito sobre essas plantas tóxicas, como a denominada Caapi que é a Banisteriopsis inebrians. Na companhia de outro naturalista, o francês Aimé Bonpland, Humboldt viajou entre 1799 e 1804 por vários países latinos (Venezuela, Cuba, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e México). Na sua jornada coletou material suficiente para escrever 30 volumes da monumental obra Voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent, fait en 1799, 1800, 1801, 1802, 1803 et 1804. Nessa obra, descreve várias espécies de plantas brasileiras.

Fato que chamou a atenção do missionário Anchieta foi a utilização dos timbós pelos índios, especialmente da espécie Erythrina speciosa, Andr. O timbó, de acordo com o Aurélio, é uma "designação genérica para leguminosas e sapindáceas que induzem efeitos narcóticos nos peixes, e por isso são usadas para pescar. Maceradas, são lançadas na água, e logo os peixes começam a boiar, podendo facilmente ser apanhados à mão. Deixados na água, os peixes se recuperam, podendo ser comidos sem inconveniente em outra ocasião". O timbó teve seu princípio ativo isolado pela equipe do professor José Ribeiro do Valle. Antes do aparecimento do PHC e similares, o timbó era muito comercializado, até exportado em grande quantidade como inseticida, com a vantagem de que sendo capaz de degradar-se não traz consequências de acúmulo e deixa de ser tóxico. Muitos dos inseticidas utilizados atualmente são perigosos por não serem biodegradáveis, quer dizer, o organismo não se libera daquele tóxico e aparecem sintomas prejudiciais.

Sérgio Buarque de Holanda, em Caminhos e Fronteiras, escreve: "Se na caça e principalemte na lavoura, a técnica européia, introduzida com os primeiros colonos e posta a serviço dos métodos indígenas, teve como resultado tornar ainda mais nocivos esses métodos, dificilmente se poderá afirmar o mesmo com relação à pesca. O emprego do pari, o recurso frequente a ervas e cipós que entroviscam o peixe, foram certamente admitidos e de bom grado pelos primeiros, mas estes não dispunham de meios que os tornassem ainda mais nefastos. A verdade é que jé no ano de 1591, os camaristas de São paulo tentavam impedir a destruição inútil do peixe adotando uma resolução que deveria parecer radical para os costumes do tempo: proibiram terminantemente que, em todo o curso do tamanduateí, se fizessem pescarias com tingui, uma das planta ictitóxicas de que então se abusava. para tais resoluções teria contribuído, segundo todas as probabilidades alguma reminiscência de medidas regulamentares semelhantes que já em Portugal se opunham às pescarias feitas com materiais peçonhentos. Sobre os moradores primitivos de Piratininga deveriam exercer, porém uma invencível sedução, esses métodos bárbaros, se não é muito exagerado aquilo que afirmou Anchieta, a saber, que o total de peixes graúdos assim obtidos, ultrapassava em muitos casos doze mil. De Portugal muitos colonos j´viriam aptos a aceitar, sem relutância os rudes métodos de pesacaria que encontraram praticados entre os gentios. O próprio costume de intoxicar peixes, sem prejuízo de quem os consome, não teria para eles, o sabor de uma estranha novidade. O tingui e o timbó eram simples réplicas americanas do barbasco, do travisco, da coca, da cal e de tantas outras substâncias peçonhentas de que no reino se fazia largo uso."

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